Eu estava fazendo compras em um supermercado e uma velhinha me seguia pelas gôndolas empurrando seu carrinho e sempre sorrindo. Eu parava para pegar algum produto, ela parava e sorria: uma graça a velhinha! Já na fila do caixa, ela estava na minha frente com seu carrinho abarrotado, sorrindo:
— Espero não tê-lo incomodado, mas você se parece muito com meu falecido filho...
Com um nó na garganta, respondi não haver problema, tudo estava bem.
— Posso lhe pedir algo incomum? disse-me a senhora idosa.
— Sim. Se eu puder lhe ajudar...
— Você pode se despedir de mim dizendo "Tchau, mamãe, nos vemos depois"? Assim dizia meu filho querido... ficarei muito feliz!
— Claro senhora, não há nenhum problema, disse eu para alegria da velhinha.
A velhinha passou suas compras pela caixa registradora, empurrou o carrinho cheio com certadificuldade, se voltou sorrindo e, agitando sua mão, disse:
— Tchau meu filho...
Cheio de amor e ternura, lhe respondi efusivamente:
— Tchau mamãe, nos vemos depois?
— Sim... nos vemos depois querido!
Contente e satisfeito com o pouco de alegria dado à velhinha, passei minhas compras.
— R$ 688,00, disse a moça do caixa.
— Tá louca? Um sabonete, duas pilhas e um desodorante ?
— Mas as compras da sua mãe...ela disse que você pagaria!
— Velhinha filha da puta!
No dia em que Zé completava seu aniversário de 76 anos ele resolveu que iria ficar nu em casa durante o dia inteiro. Em um certo momento ele para na frente do espelho e olhando sua cabeça começar a falar:
— Parabéns cabeça, que me deu tantas ideias durante a vida, você faz 76 anos.
Depois olhando seus braços ele diz:
— Parabéns braços, vocês que me ajudaram a escrever tantas histórias, vocês fazem 76 anos.
Depois olhando suas pernas ele diz:
— Parabéns pernas, que me levaram a vários lugares e me sustentaram essa vida toda, vocês fazem 76 anos.
Depois olhando para seu bilau ele finaliza:
— É meu amigo, se você estivesse vivo faria 76 anos.
A velhinha morreu e foi parar nos portões do céu. Lá encontrou um assistente de São Pedro que lhe mostrou duas portas, e falou que uma dava para a entrada do céu e a outra para a do inferno. Calmamente, como convém a um anjo, disse para a velhinha:
— A senhora aguarde um pouquinho, pois aquela moça ali está na sua frente.
Passados alguns minutos da entrada da jovem, ouve-se gritos e muito barulho. Assustada, a velhinha pergunta:
— Meu Deus! O que é isso?
O anjo, muito calmo, responde:
— Não é nada, não. É que, como ela foi muito boa, estão fazendo um buraco nas costas dela para
colocarem as asinhas...
Passados mais alguns minutos, novos gritos e barulheira. A velha, já angustiada, perguntou:
— Cruz credo! Meu Deus! O que vem a ser isso?
O anjo respondeu:
— Não é nada, não. Estão fazendo um buraquinho na cabeça dela para colocar a auréola...
A velhinha se levantou da cadeira e foi em direção à porta do inferno. O assistente, assustado, grita:
— Não entre aí! Se a senhora for para o inferno o diabo vai te foder!
A velhinha, sem perder a pose, exclama:
— Não importa. Pelo menos esse buraco já está feito!